domingo, 22 de março de 2009

Escrito por M e publicado por C

Amiguinhas:

Ando preocupada com a vida mas tenho encontrado soluções. Pelo menos temos amigos com quem falar e com quem partilhar preocupações e desejos que nos deixam tão vulneráveis. Haverá coisa mais importante que conseguirmos assumir as nossas loucas preocupações?

Ontem ouvi que "tudo ou nada" é sinal de instabilidade emocional. Parece-me uma das chaves e o difícil será sempre definir o nosso limite. A partir de onde é que "já é abuso"? Acho que estamos demasiado preocupadas com o limite e estamos a esquecer-nos de aproveitar tudo o que nos é permitido. Parece cliché, mas afinal o mundo perfeito não existe em pleno, existe por momentos, e é só aproveitá-los. Haverá sempre alguém para aproveitá-los connosco.

Esqueçamos o limite por uns momentos. Precisamos de espaço? Temos espaço. Precisamos de tempo? Temos tempo. Somos diferentes? Deixaremos marcada essa diferença.

Aqui vai, para animar o final da semana, uma letra de um senhor que também era diferente. Que era estranho, gozado e agora é admirado porque as pessoas não têm coragem de admirar o que é diferente, e às vezes parece que não aceitam.

Partilhemos o que temos em dose suficiente - coragem!


Gostava de dar e receber, o António.

O António Joaquim Rodrigues Ribeiro, o que nasceu em Braga, a 3 de Dezembro de 1945. Mas também o António Variações, que subia a rua do Carmo na década de 80, em Lisboa, e fazia os transeuntes virar-se para trás por causa de uma imagem peculiar. Barbas longas e roupas extravagantes aos olhos da maioria. Mas o António não queria saber.

Procurava a provocação como forma de afirmar a sua independência. A sua identidade. Mas isso era partir do pressuposto que era uma personagem, coisa que não é verdade. Era genuíno, o António. Era como era.

Na música foi um dos melhores. Tinha uma voz peculiar, mas era mais do que isso. Era aquela forma de apelar à memória colectiva, a uma certa tradição da música portuguesa, e mesmo assim produzir uma sonoridade profundamente modernista. De tal forma que, depois daquela madrugada de 14 de Junho de 1984, a sua música continua a manter a mesma pertinência.


Quero é viver
António Variações
Vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver

Amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será
mais um prazer

e a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com a idade
interessa-me o que está para vir
a vida em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar, vou fugir ou repetir

vou viver,
até quando, eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver
amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será mais um prazer

a vida é sempre uma curiosidade
que me desperta com idade
interessa-me o que está para vir
a vida, em mim é sempre uma certeza
que nasce da minha riqueza
do meu prazer em descobrir

encontrar, renovar vou fugir ou repetir

vou viver
até quando eu não sei
que me importa o que serei
quero é viver,
amanhã, espero sempre um amanhã
e acredito que será mais um prazer

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